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DAS CANTIGAS TRADICIONAIS ÀS ARTICULAÇÕES POLÍTICAS

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O legado de Dona Uia para os quilombos de Armação dos Búzios

Dona Uia foi eleita presidente da Associação dos Remanescentes do Quilombo da Rasa no ano de 2000, após seu mandato foi criado para ela o cargo de presidência de honra devido a sua influência e importância nas ações realizadas pela associação. Reconhecida como símbolo de resistência na luta quilombola, Carivaldina Oliveira da Costa, nossa Dona Uia, é referência do quilombo de Rasa, em Armação dos Búzios, local onde dedicou sua vida a preservação da cultura tradicional e lutou pela regularização de seu território e o acesso das comunidades as políticas públicas. O autorreconhecimento das comunidades quilombolas de Rasa e Baía Formosa se entrelaçam com a trajetória ativista que Dona Uia seguiu ao longo de sua vida.

Dona Uia, símbolo de resistência e luta no movimento quilombola.

Dona de uma memória impressionante, sua felicidade consistia em contar os casos, mostrar fotografias antigas aos que chegavam em sua casa, disseminando a cultura oral para todos aqueles que se propusessem a conhecer um pouco mais sobre a história de sua vida simples e significativa. Foi nos movimentos sociais que se tornou conhecida, nas reuniões e encontros promovidos por entidades ligadas ao movimento quilombola, para discutir as demandas de titulação territorial dos remanescentes de quilombo, na movimentação em direção aos direitos da minoria negra, nas práticas culturais da comunidade, na busca por geração de renda e assistência social, além das questões ambientais envolvendo o território quilombola. Em 2003 esteve entre os fundadores da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (ACQUILERJ)  contribuindo com a propagação dos direitos quilombolas e com a percepção de que os problemas das comunidades são semelhantes e provem das mesmas causas.

Foi nos anos 90 que moradores de Baía Formosa em Armação dos Búzios, ao tomarem conhecimento das atitudes de Dona Uia, uniram-se para fortalecer o movimento, pois tinham em suas histórias algo em comum. Em 2009, numa reunião com a Fundação Cultural Palmares e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria (INCRA), Cassiano Pinto foi apresentado por Dona Uia a essas entidades como morador de Baía Formosa e compartilhou com eles a história da expulsão de famílias que viviam no local sendo estes remanescentes de escravos. Foi neste momento que Cassiano obteve informações e foi incentivado a dar início ao processo de autorreconhecimento da comunidade quilombola de Baía Formosa. Entre os requisitos para o autorreconhecimento da comunidade, deveria ser feito um levantamento de dados com nome e sobrenome das famílias e suas histórias afim de encontrar pontos em comum para a identificação do quilombo. Nesse mesmo período foi dado inicio a uma serie de reuniões e articulações para a criação e regularização da Associação dos Remanescentes do Quilombo de Baia Formosa (ARQUIBAF) que aconteceu em junho de 2010. Cassiano como presidente da associação, junto com Elizabeth Fernandes, que posteriormente assumiu o cargo, trabalharam juntos com Dona Uia até que a associação fosse legalmente reconhecida como base para dar seguimento aos processos de consolidação do quilombo de Baía Formosa assim como a luta para a regulamentação de suas Terras.

Luta pelo território 

Atualmente a principal luta dos quilombolas diz respeito a implementação de seus direitos sobre seu território de origem. Embora tenha aumentado as ações governamentais de proteção as comunidades tradicionais, ainda são insuficientes para garantir condições de vida apropriada a esses grupos, tornando-se imprescindível a articulação dos movimentos sociais quilombolas e a inserção de verdadeiros lideres na política publica para assegurar que a identidade étnica de um povo não se perca diante da opressão latifundiária.

Elizabeth Fernandes e Cassiano Pinto, membros fundadores da Associação dos Remanescentes do Quilombo de Baía Formosa.

Em contato com os movimentos sociais quilombolas como protagonista e contribuinte, Dona Uia disseminou a força das raízes de seu povo, evidenciando o despertar da cultura quilombola na região. Exerceu papel fundamental no reconhecimento e valorização das comunidades quilombolas de Armação dos Búzios, plantou no coração de jovens e adultos o desejo de liderança e liberdade frente aos desafios inerentes da atual sociedade. Deixou um precioso legado de memórias e conquistas e como principal lição, perpetuou a arte de lutar sorrindo.